O que eu desejo para um 2025 melhor
O ano novo traz sempre consigo um desejo de renovação, um desejo de fazer e ser diferentes. É a renovação da esperança em um futuro melhor. O desejo de viver mais plenamente, de ser mais feliz no dia a dia. O desejo de ser um filho melhor, um pai melhor, uma mãe melhor, um amigo melhor, um profissional melhor. O desejo de viver uma vida com mais harmonia e paz. Com mais sorrisos, mais abraços, mais alegria, mais amor. É a renovação da esperança no maior desejo que compartilhamos: o desejo de viver em um mundo melhor.
Pelas minhas aventuras e viagens pelo mundo, pela minha forma de encarar os desafios da vida, alguns amigos às vezes brincam que eu "sei viver". Eu admito que, às vezes, não entendo muito bem o que eles querem dizer. Mas que contribuição posso dar para ajudar as pessoas a construírem esse mundo melhor? O que a vida me ensinou sobre o que é realmente importante? Qual caminho vejo como capaz de construir um mundo com mais esperança? Com mais harmonia?

O passado
Só conseguimos aprender com a nossa experiência de vida quando olhamos para o passado. É ao olhar em retrospectiva que conseguimos ligar os pontos e tirar aprendizados sobre quem realmente somos. No entanto, muitas vezes usamos esse olhar para trás de forma equivocada. Usamos o passado como uma fonte de lamentações: das coisas que poderiam ter sido diferentes, dos erros que cometemos ou que outras pessoas cometeram. Mas quase nunca focamos nas coisas que deram certo no passado. Nas experiências que nos trouxeram felicidade. Nas coisas que nossos pais fizeram e que nos ajudaram a ser quem somos hoje.
Frequentemente, pensamos que somos apenas o peso das coisas e dos traumas que carregamos. Mas, muito pelo contrário, somos principalmente o resultado das coisas que deram certo na nossa criação.
Essa talvez seja uma das grandes lições da vida. Olhando em retrospectiva, lembrando das pessoas que tiveram as maiores influências sobre quem sou e que moldaram o meu jeito de ser, vejo algo em comum. Vejo pequenas ações que me formaram e que contribuíram imensamente para o meu desenvolvimento como ser humano, moldando a maneira como me relaciono e interajo com o mundo. Essas ações estão profundamente conectadas com tudo o que conquistei e vivi até hoje.
O que me faz ser quem eu sou?
Para usar o passado como forma de juntar os pontos, vou contar duas histórias que me ajudaram a entender muito sobre quem eu sou e por que faço as coisas como faço.
Eu era criança. Devia ter uns 6 ou 7 anos. E estava em Uberlândia para visitar a minha mãe. Nessas visitas eu nunca me desgrudava dela para nada, e por isso ela me carregava para todos os lugares que ela ia. Nesse dia, já devia ser umas 22:00 da noite, não me lembro onde estávamos, pegamos o ônibus para voltar para casa. O ônibus estava cheio de pessoas, voltando de seus trabalhos, cansadas. Como minha mãe também, desejando ansiosamente chegar em casa. Eu não me sentia cansado, mas estava bem agarrado na perna da minha mãe. Quando chegamos perto do fundo do ônibus, uma mulher que parecia tão ou mais cansada que todos que estavam ali. Se levantou e cedeu o lugar dela pra mim e minha mãe sentarmos. Eu fiquei completamente sem entender. Porque que ela fez isso? Talvez porque os ônibus de Patrocínio quase nunca tinha gente suficiente para estarem cheios. Mas eu sei que olhava pra ela muito intrigado. E baixinho perguntei a minha mãe: "Mãe, porque que essa moça fez isso?"
E minha mãe me disse que criança ir em pé no ônibus é perigoso.
A segunda história aconteceu quase 20 anos depois, no ano de 2022.
Eu havia acabado de me mudar para Buenos Aires. Naquela empolgação imensa de conhecer todos os cantos da cidade, eu andava muito por todos os lados. Era a minha primeira parada de um mochilão que eu sonhei havia muitos anos. Nesse dia, me juntei com duas pessoas que moravam no mesmo prédio que eu, para irmos conhecer a cidade de Tigres. Pegamos o trem bem cedo pela manhã e lá chegamos. A foz do rio paraná era linda e espetacular. Em pensar que as águas que nasciam em Patrocínio, desciam no Rio Paranaíba e chegavam até ali era uma coisa surpreendente. Ficamos deslumbrados com o charme da cidade e andamos muito o dia inteiro. Procuramos um lugar próximo do rio para assistir o pôr do sol, após ter andado mais ou menos uns 20 km naquele dia. Já era noite e voltamos caminhando até a estação de trem para voltar para casa. Ansiando chegar em casa para tomar um banho e dormir um sono profundo. Cada estação que passava, mais o trem enchia. Como a pandemia tinha recém acabado, muita gente ainda usava mascára para andar no trem. Numa estação entrou uma mulher como uma menina. A mulher estava toda apressada, meio desesperada por não ter uma mascára, então tava o nariz e a boca com a gola da camisa. A menina não sabia muito bem o que acontecia, mas segurava a perna da mãe pra se equilibrar dentro do trem. Sem pensar duas vezes, troquei meu lugar com a pessoa que estava do meu lado e ofereci meu lugar para a mulher. Eu sabia que era perigoso para criança ficar em pé no ônibus ou no trem. Por coincidência, também tinha uma mascára sobrando na mochila. Aquela menina me olhou com os mesmo olhos curiosos que um dia eu olhei para aquela mulher. Em pé, com os olhos marejados evitei olhar para as pessoas. E me lembrei daquela mulher que não sabia o nome, mas que plantou a semente de uma coisa maravilhosa dentro de mim.

O poder da gentileza
Olhando em retrospectiva, é fácil perceber que não sabemos o impacto que nossas ações podem ter na vida dos outros. Aquela mulher me deu seu lugar, sem nem esperar um obrigado, sem pedir nada em troca. Mesmo tendo muitos motivos para não o fazer, como todas as pessoas no ônibus que nós passamos antes de chegar ao fundo. Foi a primeira vez que percebi a gentileza de alguém que nunca tinha me visto, alguém sem qualquer relação comigo.
Nunca sabemos o impacto das pequenas ações que realizamos na vida de alguém, nem como elas moldam profundamente quem nos tornamos. Desde aquele dia, sempre que tenho oportunidade, cedo meu lugar — seja no metrô, no ônibus ou na fila da lotérica. Sempre que a vida me dá a chance, tento retribuir essa gentileza. Faço isso sem nunca esperar nada em troca, do mesmo jeito que aquela mulher me ensinou.
Um único ato de gentileza gerou, pelo menos, outros mil.
Não importa como você o chame: efeito borboleta, efeito dominó, efeito cascata. É o próprio milagre da multiplicação. Esse é o poder da gentileza. A gentileza é a bondade em prática. A ação da bondade. É a forma de criar um efeito em cadeia capaz de mudar o mundo para melhor.
Gentileza é a bondade em prática.
Às vezes, um simples "bom dia" pode transformar o dia de alguém para melhor. E, por sua vez, essa pessoa pode sorrir para alguém que cruza o seu caminho. E quando você diz algo bonito para alguém, você reacende o brilho dessa pessoa, que acaba distribuindo mais sorrisos e mais "bons dias" ao longo do dia.
E assim, o ciclo da gentileza se perpetua. Porque gentileza gera gentileza. Que gera mais gentileza. Num ciclo infinito de bondade.
Manifesto para um ano e um mundo melhor
Nem todas as sementes de gentileza que semeamos produzem frutos. Mas, com toda certeza, as que caem em boa terra geram muitos frutos, e de excelente qualidade. Praticar a gentileza é uma forma de praticar a generosidade, é uma maneira de expressar gratidão por estar vivo. É, também, a melhor forma que conheço de fazer amigos de verdade. Além disso, nos beneficiamos diretamente, pois contribuímos para construir um mundo melhor para nós mesmos. Quanto mais gentis somos, mais espaço criamos para que as pessoas sejam gentis conosco.
A prática da gentileza é, por si só, uma recompensa. Ela beneficia tanto quem a pratica quanto quem a recebe.
Para fazermos a revolução da gentileza, convido você, primeiramente, a ser gentil consigo mesmo. Aprecie suas conquistas, tenha compaixão consigo ao cometer erros e tente novamente. Pratique o hábito de reconhecer o que há de bom em você. Olhe para o passado como uma fonte de inspiração, buscando as coisas que deram certo. Reconheça e valorize a gentileza das pessoas que ajudaram a moldar quem você é.
Depois — ou ao mesmo tempo — compartilhe gentileza com aqueles ao seu redor. Cumprimente com um "bom dia", diga "obrigado" e valorize as pessoas. Expresse a elas as coisas boas e bonitas que você percebe. Ajude alguém a atravessar a rua, recolha um lixo que encontrar no chão, ceda seu lugar no ônibus. Compartilhe com o mundo a alegria de estar vivo e receba de volta o mesmo espírito generoso. Sinta a alegria profunda de dar sem esperar nada em troca.
Não importa qual seja o mundo melhor que você deseja construir: ele começa com você. Ame-se profundamente, pois é desse amor que tudo mais transborda. Quando isso acontece, o mundo ao seu redor muda.
Com muito amor e gentileza, desejo a você um Feliz 2025.
Comente e inscreva-se na newsletter. Compartilhe esta mensagem. Ajude a palavra a se espalhar. Seja parte da revolução.
Junte-se à revolução de se amar.
Bacana. Histórias regidas pela gentileza sempre me inspiram. Considero a gratidão um dos melhores combustíveis para a força de viver. Obrigado por compartilhar momentos assim.
Refletindo sobre tudo … realmente a vida é assim… jamais colheremos coisas ruins se plantarmos coisas boas…