Porque tenho medo de ser eu?

Porque as vezes me sinto frustrado com meus sentimentos? Porque as vezes faço coisas que não quero fazer? Porque eu me preocupo tanto com o que as pessoas pensam de mim? Porque eu tenho tanta dificuldade em dizer não para as pessoas? Porque deixo minhas vontades para depois para atender o que os outros querem?

Todas essas perguntas estão relacionadas com a mesma coisa. A minha percepção de amor próprio, ou a minha percepção do que é ser eu. Para resumir, podemos nos perguntar: Porque tenho medo ou me sinto inadequado em ser eu mesmo?

E se eu te contar que amor próprio é a possibilidade de ser você mesmo? Que amor próprio é um conjunto de habilidades que você desenvolve para permitir ser você mesmo todas as ocasiões?

Entender quem eu sou é o que faz eu me amar. Então porque sinto esse medo de ser quem sou?

Uma das grandes crises do ser humano é a ideia ou crença que carregamos de que não merecemos nos amar e ser amados no estado atual da nossa vida. Então sempre adiamos o dia que vamos nos amar ou o dia que as pessoas vão nos amar. Por exemplo: "as pessoas vão gostar de mim, me respeitar e me admirar quando eu conseguir um cargo melhor no trabalho", "quando eu passar na faculdade meus pais vão ter orgulho de mim, ai vou conseguir me amar e ser amado pelas pessoas", "quando eu for alguém na vida, as pessoas vão gostar de mim", "quando eu emagrecer e tiver o corpo perfeito as pessoas vão gostar de mim, ai vou conseguir me amar também", ou em outros casos "se eu tivesse uma família como do meu amigo, eu iria me amar", "vou começar a gostar de mim quando começar a namorar aquela pessoa", "quando eu ganhar o campeonato e meu pai sentir orgulho de mim, vou me sentir amado", "quando eu for o melhor aluno e minhas notas foram as melhores minha mãe vai prestar atenção em mim".

Só preciso mudar um pouco quem eu sou, as vezes falta tão pouco pras pessoas gostarem de mim. Eu me senti assim grande parte da minha vida. Mesmo tendo entendido algumas dessas coisas, ainda me sinto assim as vezes. E tudo isso nasce do quando. Porque temos crenças de que alguma coisa precisa acontecer, ou mudar para que eu consiga me amar.

E se eu te disser que a todo instante da sua vida, você é alguém que merece amor e pode ser amado? E se eu te disser que ser quem você é tudo que você precisa pra se amar e para as pessoas te amarem? É claro que nem todo mundo vai gostar, porque as pessoas tem gostos e interesses diferentes da mesma forma que não gostamos de todo mundo. Mas que existem muito mais pessoas que você pode imaginar que já gostam de você por quem você é.

E de onde o medo vem? Qual a origem do medo?

O medo é um mecanismo de sobrevivência que temos no nosso cérebro (e a ansiedade que nós todos vivemos e conhecemos é uma reação do medo). E o medo serve para que nós saibamos evitar situações que podem causar a nossa própria morte. E quando nós somos bebês e crianças, o nosso maior medo é o de sermos abandonados. Porque para uma criança, que precisa da ajuda de alguém para comer, para se limpar, para tomar água, ser abadonado gera um medo de morrer.

Então como uma resposta a esse medo de abandono, inconscientemente vivemos tentando agradar as pessoas, dar orgulho para elas, para que elas possam gostar da gente e não nos abadonar. E muitas vezes, por exemplo, quando estamos em um relacionamento, esse medo da pessoa nos deixar, nós começamos a fazer tudo o que a pessoa precisa e por isso, a pessoa acaba nos deixando. Em um ciclo.

Eu tentava agradar todas as pessoas, participar de todos os grupos, fazer tudo sozinho que mostrasse que eu era um bom filho, um bom aluno e um bom profissional. Raramente dizia o que eu pensava, me moldava e mudava para ter o máximo de aceitação possível. Porque eu acreditava que só assim as pessoas poderiam gostar de mim. E piorava muito quando eu entrava em um relacionamento com alguém, porque eu tentava dar todo o amor que eu tinha pra pessoa não me deixar, e suprir todas as necessidades dela e ser útil para que ela não me deixassem. E porque eu deixava de ser eu para agradar a pessoa, elas deixavam de gostar de mim. Porque elas tinham gostado de mim por quem eu era e não pelo o que eu fazia para elas. Dizer que eu parei e estou curado é mentira. Ainda o faço, mas tenho mais recurso e discernimento do que realmente esta acontecendo.

Essas ideias que carregamos são o que popularmente chamamos de traumas emocionais. Traumas emocionais são coisas muito importantes para o nosso desenvolvimento como seres humanos. O problema que temos hoje em dia é que não ensinamos as pessoas a como lidar com esses desafios para crescer e lidar com os medos de forma mais madura. Então repetimos os mesmos ciclos de reação ao trauma ficando presos. E seguimos o mesmo padrão de pensamento que nos gera medo e ansiedade sobre coisas que não existem. Como por exemplo:

• Se eu não passar no ENEM no terceiro ano vou decepcionar meus pais. Se eu de decepcioná-los eles não vão gostar de mim. E se eles não gostam de mim, vão me abanonar.

• Eu queria ser como a celebridade X, ai as pessoas vão gostar e ter orgulho de mim. E quando eu for aquela pessoa, ninguém vai me deixar.

• Eu preciso ser um bom filho e nunca errar, porque se eu errar vou deixar meus pais triste, e se eu deixá-los triste eles não vão gostar de mim.

• Eu não posso falar o que eu sinto, mesmo quando não estou me sentindo bem, porque tenho que ser forte. Porque senão ninguém vai gostar de mim.

Ser humano é sinônimo de ser imperfeito, é ser uma pessoa que comete erros, que não tem todas as respostas, tem sentimentos, tem vontades e tem necessidades. Ser forte é saber pedir ajuda e entender que não da pra viver sozinho, se amar é dizer não para os outros para dizer sim a si mesmo. O medo do abandono nos fazer acreditar que não é aceitável termos características humanas. E isso é uma das coisas que gera o medo de ser quem somos verdadeiramente.

Em cada post, vou sugerir alguns exercícios para que você ganhe mais consciência sobre quem você é. Para que você possa começar a construir ideias melhores sobre amor próprio. Os exercícios de auto-reflexão são realmente as coisa que fazem você se conhecer mais. Os faça com carinho. Eu recomendo que você escreva em um pedaço de papel, para que os pensamentos venham para fora de nós e podermos olhar para eles e analisá-los em dias diferentes. Isso nos permite entender também que não somos nossos pensamentos. Eu recomendo também que você escolha alguma pessoa de confiança para compartilhar suas respostas. Volte as perguntas mais de uma vez em dias diferentes e perceba como elas mudam.

Exercícios:

• Liste as ideias que você tem sobre ter medo de ser "eu mesmo". Como as do exemplo acima. Pense sobre isso por alguns dias, e sempre que surgir uma ideia nova, volte ao papel e a escreva.

• Escreva um parágrafo para cada uma das seguintes perguntas:

  • você gosta de pessoas que cometem erros e que não são perfeitas?

  • você acredita ser possível as pessoas gostarem de você conhecendo suas imperfeições?

  • como você agirira se soubesse que existem pessoas que gostam e se importam com você do jeito que você é e não pelo que você faz por elas?

• Leia as respostas do primeiro tópico em voz alta para você mesmo e repita após cada uma delas:

  • "Eu sou um ser humano e mereço me amar e ser amado do jeito que eu sou"

• Em algumas dessas respostas, você pode e provavelmente vai encontrar sentimentos de medo, de alívio, de raiva, etc. Quando tiver sentindo, faça um desenho, um poema, rabisque uma folha, etc, para tentar colocar esse sentimento pra fora de você. Não se preocupe com ficar bonito, ter rimas ou nada do tipo. Apenas coloque no papel. Compartilho com você abaixo um poema que eu escrevi na época que estava respondendo essas perguntas.

Te vejo na próxima semana!

Yo sé que tú lo dudas

Que yo te quiera tanto

Se quieres me abro el pecho

Y te entrego el corazón

.

você ainda me amaria

se eu não fosse inteiro

e se meu coração

fosse cheio de segredos?

.

você ainda me amaria

se eu não sorrisse a todo tempo

e quando soubesse

que tenho muitos pesadelos?

.

você ainda me amaria

se eu não quiser ser o primeiro

e se não tivesse nada para dar?

me diz, ficaria para me ver dançar?

.

você ainda me amaria

se tudo o que eu tivesse

fosse um coração sangrando

para amar?